domingo, 10 de abril de 2011

Moradia Estudantil na Ufes : Solução ou Problema?

Estudantes recuperam teatro, o transformam em alojamento improvisado e enfatizam discussão sobre direitos estudantis.

Um espaço desocupado, jogado às traças e decorado com carpetes mofados. Assim era a aparência do antigo Teatro universitário localizado próximo ao Cine Metrópolis na Ufes antes de estudantes de diversos cursos se mobilizarem para a limpeza do local e a sua transformação em uma moradia estudantil. E a partir dessa mobilização, discussões sobre direitos estudantis e vida no Campus fizeram com que o movimento ganhasse mais adeptos na universidade.

O alojamento estudantil já existe nos campi de Alegre e São Mateus mas não é uma realidade para os que estudam em Vitória. Desde 1995 o campus de Alegre, onde se situa o Centro de Ciências Agrárias, possui local com capacidade para 54 pessoas. Os alunos são apenas responsáveis pela manutenção do local, e por isso pagam uma quantia de R$ 10 reais por mês para cobrir esses gastos. As outras despesas são todas pagas pelo Centro. Os alunos, para ingressarem no alojamento, passam por uma seleção na qual é analisada sua situação econômica.

Com o propósito de reivindicar uma moradia para os alunos que estudam em Vitória, o estudante Filipe Alves Borba, 20 anos, estudante de Artes Plásticas se juntou com outros amigos da universidade para ocupar o teatrinho. Felipe acredita que a situação dos estudantes que vêm de outros estados é crítica. " Muitos estudantes da Ufes são de fora como eu, que vim de Minas Gerais. Não é fácil nem barato morar em Vitória. Por isso a gente encara esse lugar como uma moradia urgente."

Segundo o Assessor de Imprensa da Ufes, Luiz Vital, são poucas as moradias estudantis existentes no país e a maioria possui muitos problemas por serem antigas. Ele acredita que muitos desses espaços se tornam locais promíscuos e pontos para usuários de drogas. " Na Universidade Federal de Minas Gerais as autoridades policiais tiveram que intervir no funcionamento dos alojamentos devido à problemas de ordem de segurança. O que se constatou é que muitos dos moradores não eram estudantes da UFMG e a universidade não possuía o controle nesse ponto.", ressalta Vital. Algumas moradias foram construídas juntamente com as universidades e desde então funcionam do mesmo jeito, sem inovações na administração. De acordo com Vital, a melhor maneira de dar aos estudantes o que lhes é de direito, seria a distribuição de bolsas para pesquisas e projetos de extensão que atendessem a demanda de alunos que comprovassem sua baixa condição econômica para, assim, serem ajudados a se manterem na universidade. De acordo com Vital, essa medida já está sendo estudada pelo governo. O assessor acha inviável a construção de um prédio para alojar estudantes dentro da Ufes. "Isso só traria problemas para a universidade" diz Vital.

Os estudantes que ocupam o teatrinho recebem apoio de vários centros e diretórios acadêmicos e também do Diretório Central do Estudantes (DCE). Alessandro Chakal, estudante de Geografia e diretor do DCE afirma que todo movimento em prol ao estudante da Ufes será apoiado.

A assistência do DCE não se resume em doações de material para divulgação do movimento pela moradia estudantil. As medidas para a mobilização já foram apontadas no último Congresso dos Estudantes da Ufes ( Coneufes) e serão devidamente analisadas com a participação de todos os interessados.

Proposta

A proposta dos integrantes do movimento é a transformação do local para a integração dos universitários e a conscientização dos mesmos em frente aos problemas do meio acadêmico. O espaço será, ao mesmo tempo, destinado à realização de eventos artísticos e culturais que possam também ajudar na sustentação do alojamento improvisado. O Teatro é carente de muitas coisas básicas que vão desde uma rede elétrica decente a um chuveiro. Funcionando em regime de auto gestão e construção coletiva, os ocupantes do local se mantêm do jeito que podem. As tarefas são divididas e os materiais são doados ou reciclados. "Já temos uma cama, algumas mesas, recebemos tinta para as paredes , mas aceitamos até sabonete!" diz Filipe.

Essa mobilização não é novidade na Ufes. No dia 8 de outubro do ano passado, um acampamento foi criado em frente ao restaurante universitário ( RU) para que a discussão do problema entrasse também na lista dos candidatos à Reitoria da universidade. A manifestação não obteve o resultado esperado, ou seja , a construção da moradia, já que o reitor eleito não se pôs a favor do projeto. Segundo os idealizadores do movimento, a Administração da Ufes alegou debilidade financeira para a construção de tal empreendimento. Por outro lado, segundo Filipe, a manifestação serviu como experiência para a construção de movimentos que reivindiquem os direitos dos estudantes e o bem estar dentro do campus.

A primeira coisa a fazer, segundo os que lideram o movimento, seria alertar os estudantes sobre o problema. A falta de conhecimento sobre o assunto é uma das dificuldades principais que enfrentam. "Estamos preparando uma Assembléia Geral para que uma proposta seja elaborada e posta no papel a fim de que possamos estar com uma postura melhor frente a ouvidoria e com maior apoio dos alunos. Um dos locais que sugeriríamos para a construção do alojamento seria a área perto da Adufes, que pertence aos estudantes e não está sendo utilizada.",diz Filipe. Enquanto isso os estudantes não pretendem deixar o teatro. "Estamos numa postura radical. Não sairemos daqui antes de conseguirmos uma moradia decente!" , exclama Filipe. " Ficaremos aqui até solucionar o problema, enquanto isso o nosso objetivo é trazer o máximo de alunos para se juntare a nós e aderir a causa", explica Hiardoveck Perpétuo Martins, estudante de física e um dos moradores do teatrinho.

Fonte: http://www.midiaindependente.org/pt/red/2004/11/295829.shtml

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